sábado, 30 de outubro de 2010

Mahasiah - por Jôder Filho

Capítulo 1: Caçada na Noite

É incrível a capacidade do ser humano de se focar em banalidades e futilidades. São duas horas da madruga e eu na rua. Uma chuva fina e gelada cai sobre minha cabeça desprotegida. O vento frio matinal passa por mim como se sussurrasse "Não vá! Volte pra casa. “Ainda dá tempo de consertar tudo.” Sei que o vento não sussurra, nem fala, então concluo que é a minha consciência. Eu a mando pro inferno e a amaldiçôo com um palavrão. "Meio tarde pra avisar, não acha?" penso. Não sei se é pelo horário ou pela chuva e o frio, mas a rua está mais deserta que qualquer lugar. Nem mesmo as janelas das casas e dos prédios emitem qualquer luz. Bem conveniente pra ele. Mais duas quadras e chego ao meu destino.
Aperto o passo para não me atrasar embora eu saiba que ele vai esperar o quanto for preciso. Ele mesmo disse que esperou séculos por alguém como eu. Eu esperei vinte anos. Desde que soube de sua existência eu o quis. As lembranças da noite em que minha mãe me contou o meu propósito na vida e o meu dever como caçador me invadem como um trem bala. Minha mãe. Tão linda e tão jovem. Ele a tomou. Qualquer caçador vai atrás de vampiros. Qualquer caçador persegue bruxas, até os piores. Menos eu. Não que eu já não tenha feito nenhuma dessas coisas. Fiz sim. Matei mais vampiros que o próprio Van Helsing. Queimei mais bruxas que a Inquisição. Mas, ao contrário dos caçadores comuns, não encarei como aventuras e trabalho. Era tudo treinamento. Preparação para dias piores. E eles chegaram. Há duas semanas eu o encontrei. Acho que ele queria que eu o encontrasse, ele sabe se esconder muito bem quando quer. Era óbvio que ele queria me ver. Dessa vez eu vou pôr um ponto final nisso. Essa bosta acaba hoje.
Um casal briga num apartamento próximo. Tão alto que mal consigo ouvir meus pensamentos. Distingo certas palavras e maldiçoes mutuas. “Nada nunca está bom pra você, não é?” e ela responde “Porque você não morre? Ou talvez morra eu de desgosto!”. Eles não sabem o quanto estão próximos da verdade, se eu falhar. Mas não vou falhar. Eu nasci pra isso. Treinei pra isso. Vivi pra isso!
Um vento frio passa cortando meu rosto. Levada pelo vento eu ouço a risada dele. Bem baixinho. Bem de leve. Como se o próprio vento quisesse me lembrar do porquê de estar andando. Só mais uma quadra. O fato de ele saber que eu estou indo pra lá deveria me paralisar de medo. Mas a esperança de que meu plano o surpreenda me aquece de novo. Aperto o passo mais uma vez, tentando descontar minha ansiedade nas pernas e passos. Não posso estar ansioso quando a hora chegar. Tenho que ser preciso. Tenho que ser frio. A coragem precisa me encher a ponto de sufocar o medo. Eu preciso esquecer qualquer coisa que me leve ao arrependimento. Deixarei pra me arrepender depois, do contrário, talvez nem termine minha empreitada. E preciso terminá-la. Afinal, não é todo dia que se mata um deles. Meu nome é Elias Nascimento Batista. Sou um caçador. E, creiam ou não, queridos leitores. Essa é a história de como matei um anjo.

Aviso aos leitores e/ou seguidores do blog!

Olá, queridos seguidores e leitores. Espero que estejam gostando da saga de Ezequiel porque eu, honestamente, estou adorando fazê-lá. Tenho recebido cobranças, elogios e sugestões de vários de vocês, o que me alegra muito. Hoje venho avisar algo muito especial. Começarei hoje a postar uma nova história que estou escrevendo, intitulada "O Caçador". Antes de mais nada, quero avisar que não deixarei de publicar "A Batalha de Ezequiel". Na verdade, meu plano é publicá-las alternadamente. Dessa forma, a leitura do blog não fica massante e posso postar com mais calma. Minha idéia é postar numa semana "O Caçador" e "A batalha de Ezequiel" na outra. Volto a afirmar que espero ouvir/ler sugestões, críticas, dúvidas e qualquer pergunta que tiverem. Deixarei meu endereço de e-mail ao fim do post, para os que desejarem contato. Agradeço mais uma vez pelo carinho e a atenção que dedicam a este humilde escritor e espero que gostem do novo conto. Sem mais delongas, muito obrigado.
By: Jôder Filho - dinho_logan@hotmail.com

sábado, 23 de outubro de 2010

Ezequiel - Parte Sete

Por entre as árvores e arbustos, Valéria corria desesperada, ainda sem acreditar no que seus olhos tinham acabado de ver. Aquilo era bestial. E estava atrás dela. O velho havia feito algo, não sabia se era magia ou qualquer outra coisa, mas sabia que foi ele. Tudo o que lhe restava agora era chegar à sua casa. Enquanto corria, outra resposta lhe ocorreu. Marcus. Ele podia ajudá-la. Deveria estar a meio caminho da choupana dele. Poderia chegar lá se corresse. Se sobrevivesse.
Longe dali, o ferreiro John também corria. Tinha que chegar a tempo. Sua filha corria perigo e ele tinha que salvá-la. Não iria agüentar perde-la também. Sua mão direita empunhava um machado de guerra feito por seu pai. Nunca houve uma arma tão resistente feita por alguém. Exceto, é claro... outro grito! Afastou os pensamentos e tentou manter o ritmo. Não tinha mais o mesmo físico de antes. Há anos não corria e nem lutava, e agora, implorava para que seu velho corpo agüentasse. Outra coisa lhe ocorreu. Marcus. Se Valéria corria para casa, a casa dele estava no meio do caminho. Se ela fosse esperta, e ela era, iria para lá. Se ele chegasse antes dela, Marcus poderia ajudá-lo. A esperança revigorou suas pernas e seu fôlego, fazendo-o continuar a corrida sem perder o ritmo.
Enquanto corria, Valéria orava por sua vida. O medo da morte sempre foi presente em sua cabeça. Uma sombra passou por sobre sua cabeça pousando mais a frente, o impacto chacoalhando o chão e derrubando a moça. Da orla à sua frente à enorme cabeça da fera surgia das sombras. A besta a encarava nos olhos. Valéria não sabia mais o que fazer. Seu caminho para a casa de Marcus e para a sua própria estava bloqueado pela criatura.
- Não se preocupe pequena, Ziz não lhe fará mal. Na verdade, você é mais uma garantia de que Ezequiel virá até nós. – o velho surgia atrás de Valéria, ainda longe para lhe fazer mal. A criatura avançou mais um pouco, seu enorme pescoço estava mais alto que o corpo e sua boca se abria mostrando os dentes afiados e exalando o odor fétido de carniça.
O ferreiro ainda corria desesperado. Avistou a cabana de Marcus. Pulou as escadas da entrada ignorando as dores nas pernas e nas juntas. Bateu desesperadamente na porta da madeira, quase a derrubando.
- Marcus! Por favor, diz que está aí! – não havia resposta. – Marcus! – Ele não estava na casa. O ferreiro saltou de volta as escadas e retomou sua marcha desesperada para salvar sua filha. Ele iria chegar a tempo. Tinha que chegar!
Valéria chorava. Pedia por sua vida, implorava. Mas, ao que tudo indicava no momento, de nada adiantaria. Seu destino estava selado. Lembranças, pensamentos e principalmente duvidas rodavam em sua cabeça. Quem era Ezequiel de quem o velho falava? O que ela tinha a ver com isso? Por que ela? Não era justo.
A fera estava bem à sua frente, a boca escancarada, preparando-se para o bote. Valéria, de joelhos, chorava e tremia. A criatura rugiu e preparou o ataque. Valéria fechou os olhos, as lagrimas jorrando por sua face. Estava certa de sua morte, mas o milagre aconteceu. Um grito, vindo de trás da fera à fez acordar, tudo acontecendo muito lentamente para ela. Uma bola de fogo explodindo e expandindo nas costas da fera, fazendo-a interromper o bote. E empurrando-a mais a frente. Valéria ainda assustada virou-se preparando para se afastar viu o velho ainda perplexo. Aparentemente ele também se surpreendera com o ocorrido.
Outra explosão, a fera tombou. Valéria começou a correr, mas foi interrompida pelo braço do velho. Como era forte! Ele a segurou pelo pescoço, em sua outra mão, a adaga prateada com que fizera o corte. Virou-a de modo que ambos ficavam de frente pra onde a fera estava. A fumaça subindo das costas do monstro. Só agora Valéria via a criatura completamente. Era uma ave gigantesca. Suas asas tombadas tomavam quase a extensão do campo todo.
- E essa é só uma réplica. – o velho sussurrou em seu ouvido, como se lesse seus pensamentos.
Uma flecha passou zunindo rente à sua cabeça, cortando o capuz do velho ao meio e fincando-se a um tronco mais atrás. Ambos assustados. Do meio da fumaça, caminhado por sobre as costas da besta, uma figura surgia. O arco em sua mão esquerda e uma flecha na direita, ainda sem esticar o cordão e apontando para baixo. Desceu da cabeça da fera com um pulo, postou-se em posição. As pernas esticadas, os joelhos levemente arqueados. Esticou o braço direito enquanto ajeitava a mira com o arco. Sua voz saiu cortante e decidida:
- Eu vou dizer só uma vez. Solte a moça ou você morre antes de me ver soltar a flecha. – a mão que esticava a flecha estava rente ao rosto, o arco muito esticado. O velho sabia que se recebesse uma flechada com aquela força, provavelmente não sobraria muito de seu crânio. Como havia chegado naquela situação? Estava tudo sobre controle. Havia pegado o sangue da moça, como o mestre mandara. Havia marcado-a com a fera. Só precisaria de tempo até chegar a Ezequiel. Como tudo mudara tanto em tão poucos segundos? Sua mente estava confusa, e o medo começava a brotar em seu peito. O que fazer?
Ainda presa no abraço do velho, Valéria viu surgir seu salvador por entre a fumaça da fera. Sabia que estava salva agora. Sabia que nada deteria o arqueiro e que podia confiar sua vida a ele. As lagrimas que caíam agora eram de felicidade. Um leve sorriso apareceu em seus lábios e um sussurro quase inaudível escapou por entre os lábios da moça:
- Marcus!

sábado, 11 de setembro de 2010

Ezequiel - Parte Seis

A porta de madeira se abriu com um solavanco, soltando linhas de poeira no ar, visíveis apenas graças à luz do Sol que entrava por trás de Ezequiel. A sua frente, com uma mão na maçaneta da porta e outra segurando um martelo, o ferreiro o encarava, tampando o caminho com seu enorme corpo. Seus olhos esquadrinharam o estranho a sua frente rapidamente. O rapaz parecia exausto, sua pele estava suja de foligem e cinzas e seus cabelos e sua roupa chamuscados em vários lugares. O garoto estava ainda perdido em pensamentos quando o ferreiro quebrou o silencio.
- Posso ajudá-lo, garoto? – ele perguntou sem desviar o olhar dos olhos de Ezequiel.
- Eu..eu – ele sentiu o cansaço e a exaustão tomando conta. A armadura, o ódio e a tristeza cada vez mais pesados. - ...eu...... – e tudo ficou escuro.
O ferreiro havia percebido o quanto o rapaz estava esgotado, logo, não se surpreendeu de vê-lo desabando a sua frente. Segurou por debaixo dos braços, sentido algo de estranho. O rapaz era muito pesado pro tamanho dele. Arrastou-o até um sofá velho e ficou observando. Ela não iria acordar tão cedo. Um facho de luz que entrava pela janela iluminou o rosto e o peito dele por um segundo, mas foi o suficiente para o ferreiro perceber algo refletindo a luz. Afastou um dos lados do casaco e viu algo que o deixou paralisado.
Na floresta de Inosa, a jovem Valéria, filha do ferreiro John, colhia frutas frescas para a sobremesa. Já havia passado no mercado e comprado o que precisaria para o almoço e agora se aventurava sozinha na orla da floresta sem prestar muita atenção ao seu redor.
Quando foi colher um ramo de morangos silvestres uma voz a assustou, vinda de suas costas.
- Esses com certeza estão muito bons.
Valéria caiu assustada derrubando poucas coisas da cesta. Virou-se encarando o dono da voz. À sua frente estava a criatura mais estranha e peculiar que ela já vira. Um velhinho, de corpo encurvado e olhos negros grandes a olhava com interesse.
- Oh, me perdoe se a assustei, mocinha. – disse ele estendendo a mão pra ajudá-la – Não foi minha intenção.
Valéria recusou a ajuda se levantando sozinha. Aquela floresta era perigosa a qualquer hora do dia e não era bom confiar em estranhos, mesmos os mais velhos.
- Não se preocupe – disse recolhendo a cesta – esta tudo bem, eu estava mesmo distraída. – Ao pegar o ultimo morango acabou se cortando fundo no indicador. O velho olhou a mão da moça com muito interesse, quase a devorando com os olhos.
- Você me parece uma boa moça, então vou ajudá-la. – disse o velho desviando o olhar para os olhos dela.
- Não precisa – ela se apressou em dizer – a cesta não esta pesada. – ela puxou a cesta para junto do corpo e uma gota de sangue pingou de seu dedo. Antes de tocar o chão o velho estendeu a mão e agarrou a gota em sua palma.
- Eu não falava da cesta – ele disse fitando a mancha de sangue em sua mão com um olhar malicioso. – Eu falava de Ezequiel. – ele puxou uma faca de dentro de sua roupa e fez um corte na própria mão, mesclando seu sangue ao dela. Seus olhos se fecharam e Valéria sentiu a terra sob seus pés estremecer, como se algo se movesse lentamente, passo a passo e foi então que ela viu. A criatura saiu de dentro da floresta encarando fixamente. Valéria largou a cesta e começou a correr pela sua vida.
O ferreiro ainda estava atônito com a visão da armadura. Lembranças e pensamentos dançavam loucamente por sua cabeça quando o vento carregou uma voz distante, trazendo-o de volta ao presente. Era Valéria, sua filha, e ela gritava de medo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

FINALMENTE!!!!!

Pois é, caros leitores, mais uma vez eu volto aqui para agradecer e me desculpar pelo carinho e pela ausência das postagens, respectivamente. O fato é que esta semana foi lançada a edição 2 da revista goianiense Heavyrama, voltada pro cenário do rock e do heavy metal local e internacional. Convenhamos...é algo que se faz necessário no meio atual em que vivemos (sou metaleiro até o fundo da minha alma). Mas não vim aqui só pra fazer a propaganda da revista. Vim para anunciar que a mesma publicou meu conto novo nesta mesma edição. Mais uma conquista que não seria possível sem o apoio, o respeito, o carinho e as sugestões de todos vocês. Agradeço do fundo do meu coração por terem me acompanhado até aqui. Deixarei no fim do post o link da revista para download (revista digital). Espero que todos curtam e mais uma vez. muito obrigado.
Atenciosamente: Jôder Filho - God's Hammer

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Desculpas (outra vez...)

Pois é, amigos. Acho que minhas postagens têm sido mais para me desculpar por não postar, do que para continuar a saga de Ezequiel que muitos me cobram. A verdade é: meu tempo têm sido cada vez mais escasso nesses últimos 2 meses. Sei que isso não é desculpa, mas só o que posso garantir é que as partes seis, sete e oito sairão quase todas na mesma semana, e também que postarei "As Flores de Alice", meu novo conto logo em seguida. Ainda não o coloquei porque o escrevi para uma revista, e não posso postá-lo antes de saber se eles vão publicá-lo ou não. Gostaria de pedir também que mandassem sugestões, críticas, opiniões, ilustrações, e até algo que vocês mesmo fizeram. Quanto mais gente colaborar, mais enriquecido fica o blog, e eu, é claro, darei os devidos créditos aos autores. No mais um muito obrigado pela compreensão de vocês e pelo apoio e o respeito que têm sido cruciais nessa jornada. Um abraço a todos e uma boa semana.
Ass.: Jôder Filho - God's Hammer

quarta-feira, 28 de julho de 2010

AVISO IMPORTANTE!!!! POR FAVOR, LEIAM!!!!

Gostaria, primeiramente, de agradecer a todos que têm lido, acompanhado e comentado nos contos. Sem vocês esse blog não estaria como está, provavelmente. Muito obrigado. A atenção e o carinho de todos vocês foram e são as maiores incentivadoras para alcançar a conquista que contarei aqui. Recentemente fui contatado por uma revista digital para a publicação de meus contos. Por enquanto não direi o nome da revista, mas assim que sair a edição em questão farei a devida propaganda. O bom é que ainda vão divulgar o blog. Obrigado a todos vocês por fazerem deste humilde blog algo tão bom e prazeroso para mim.
Eternamente grato....
Jôder Filho - God's Hammer (O pai de Ezequiel)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ezequiel - Parte Cinco

Castelo de Inosa. A noite se transformando em madrugada. As luzes do castelo já se encontravam em sua maioria apagadas, exceto pelas tochas nos portões e na masmorra. Esta última era a torre mais alta de todo o local. Não era como em outros castelos e fortes em que haviam torres 7 ou 8 metros mais alta que as outras. Esta torre em questão se encontrava a pelo menos 12 ou 13 metros acima de todas as outras. Só havia uma porta, vigiada por 4 guardas fortemente armados e mais dois para revezarem os turnos, e uma janela que se encontrava no alto do cômodo, onde nenhum ser humano comum conseguiria subir sem ajuda. Lá no alto, rasgando o céu, a masmorra emanava uma fraca luz que fugia pela janela. Dentro do cômodo, por mais estranho que pareça, não havia pó ou qualquer sujeira, mas sim uma vasta biblioteca margeando as paredes. Móveis luxuosos se encontravam espalhados em locais planejados da enorme sala. No centro, duas poltronas estavam viradas de frente uma para outra, com uma mesa separando as duas. Na mesa, um tabuleiro de xadrez sediava uma partida que já durava três horas, mas para os dois homens que jogavam o tempo passava completamente despercebido. Como dois generais em guerra, Félix II e Lúcio se concentravam na partida.
― As coisas estão ficando difíceis, Lúcio. – disse o rei movendo um dos cavalos a frente de um peão. – Muito difíceis. – completou.
― Já quer desistir do jogo, meu amigo? Logo agora que está ganhando. – disse o outro sem sequer levantar os olhos. – Acho que a idade está começando a maltratá-lo, meu caro. – Sua mão se moveu para mexer uma peça, mas se deteve no ar, seu rosto demonstrando a insegurança de qualquer jogador inexperiente. Moveu o bispo e tomou o cavalo recém movido pelo adversário. – Essa foi fácil.
Um movimento decidido do braço real e a torre toma o bispo. – Você deveria prestar mais atenção. Pra um estrategista de sua alçada o xadrez deveria ser um mero passatempo. – olhou para o rosto do outro, que estava visivelmente perplexo em não ter visto a armadilha. – Quem será que é o verdadeiro maltratado pela idade? – ele olha de relance adivinhando o próximo movimento de Lucio. O jogo já estava ganho, como sempre. Ele estava sempre à frente e sempre no comando. Não podia deixar que Lucio soubesse a influencia e o poder que tinha. Felizmente, o tempo de isolação na masmorra acabou deixando Lucio mais parecido com um velho senil do que com o gênio que ele era em seu âmago. Ele ainda dava as melhores decisões de estratégias para batalhas, mas parecia não entender o que se passava direito. Com medo de que seu melhor estrategista ficasse insano de vez, Félix resolveu visitá-lo periodicamente. Poderia vigiá-lo de perto e garantir que a solidão não enlouquecesse o velho. – Você sabe do que estou falando, Lucio?
― Da fera que incendiou aquela aldeiazinha ao sul de Inosa, não é? – ele continuava com os olhos fixos no tabuleiro, procurando alguma saída para virar o jogo. – Achei que você tivesse me pedido para enviá-la.
― Sim, meu amigo, eu pedi. Mas não é isso que me incomoda. Eu disse “sem sobreviventes”, lembra. Um jovem em especial sobreviveu. Como, eu não sei. Mas ele precisa morrer. Você sabe disso. Foi pra isso que mandei que enviasse a besta. Ela destruiu a vila toda, menos o único alvo que ela tinha. Achei que ela fosse eficiente.
― E ela é. – ele continuou – Muito eficiente. Mas você sabe que as feras são difíceis de controlar. Principalmente as três grandes. Não posso controlá-las, ainda mais a distancia. Só pude focá-la. A vila era o alvo. O rapaz deve ter tido ajuda. Como você disse que ele se chama mesmo? – o peão avançou uma casa.
― Eu não disse. – ele moveu a torre até pará-la na mesma linha do rei de Lucio. – Cheque. Não há mais saída. Eu o quero morto, Lucio. Morto. - O rei se levantou e foi se dirigindo à porta. Virou-se rapidamente para Lucio – Espero ter sido claro. Foi bom jogar com você, amigo. Treine mais e um dia quem sabe me vença. – ele bateu na porta. O guarda abriu e a trancou assim que o rei saiu.
Lucio ainda ouvia seus passos descendo a enorme escadaria quando se levantou. A capa lhe caiu do corpo revelando um homem forte rejuvenescido. Ele se dirigiu até uma estante e pegou um pequeno frasco com um liquido quase transparente e se preparou para tomá-lo. Antes de tomar, porem, deteve seu olhar no tabuleiro. Caminhou até ele e observou as peças ainda paradas. Ele teve que fingir que não sabia o que estava fazendo mais uma vez. Com um movimento ele tomou a rainha inimiga e posicionou a sua em direção ao rei. “Cheque mate” murmurou só para si. “Você está errado Felix. Você não convida o Diabo para jantar e pede que ele se comporte” ele pensou. Tomou sua poção e sentiu a costumeira queimação lhe descendo a garganta. “Meus planos vão alem dos seus” e foi com esse pensamento que ele alçou vôo para fora da masmorra, cada vez mais alto, na fria madrugada.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Aviso aos seguidores!

Primeiramente gostaria de me desculpar por estar demorando tanto para postar a parte 5. Muitos têm me cobrado e tenho tentado finalizá-la semana após semana, mas tá difícil. O problema, caros leitores, é que a parte 5 dá início a um novo rumo na saga de Ezequiel. É na parte 5 que as coisas realmente começarão a acontecer. Nela vocês verão que a história vai muito além de Ezequiel. Muitas conspirações, traições, novas amizades e batalhas virão por aí. Tenho corrigido e adicionado detalhes à parte 5 exatamente por ela simbolizar esta passagem da introdução a história para o enredo principal em si. Por isso eu peço aos leitores que continuem comentando e me cobrando. Prometo que até o fim dessa semana (no mais tardar 16/07) eu posto a parte 5. Como vocês poderão notar, ela será um pouco maior que as outra, e abordará mais de um ângulo da história. Daqui para a frente todas as postagens serão mais ou menos do mesmo tamanho, para não tornar a leitura massante. E me comprometo pessoalmente a postar com um hiato de no máximo duas semanas entre as postagens. Peço que continuem comentando e divulgando o blog. As opiniões são sempre bem vindas, por mais divergentes que possam ser. Eu leio todas e salvo-as no meu próprio PC para poder sempre contar com a ajuda de vocês.
Gostaria de informar também que fiz o meu cadastro no programa de ingresso de novos escritores de uma editora nacional de grande importância. Para publicar a batalha de Ezequiel eu terei que aumentar cada uma das partes, portanto, o apoio de vocês é vital.
Sem mais enrolações, agradeço a todos por seguirem, lerem e divulgarem o blog. Muito obrigado.
Atenciosamente: Jôder Filho - God's Hammer

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ezequiel - Parte Quatro

O sol já ia alto por trás dos montes verdes ao redor de Inosa. Os passaros já haviam despertado e cantavam enquanto faziam seus circulos por sobre a cidade. A maior parte dos habitantes da vila estava desperta e se ocupava de seus afazeres rotineiros sem se importar com o estranho que chegava pela estrada.
Vestindo um longo casaco escuro e cambaleando por entre os passos Ezequiel não chamava muita atenção para si, no máximo sendo confundido com algum mendigo ou andarilho. E era exatamente isso que ele queria. Tinha que chegar a um lugar seguro sem ser notado. Muitos dos habitantes de Inosa o conheciam, mesmo que só de vista.
Passou por uma taverna e sentiu o cheiro de carne assada. A fome. Só agora percebera que não comera nada desde à tarde do dia anterior. A raiva e a subsequente tristeza e solidão que se abateram pareciam tê-lo abastecido por um tempo, mas assim que se instaurou a calma, seu corpo não tardou a reclamar. Estava com pouco dinheiro, e não sabia se teria a ajuda necessária. Era melhor poupar. Resistiu ao impulso de roubar algo para comer e continuou seu caminho, amaldiçoando sua sorte.
Ao fim da estrada principal da cidade, ele virou à esquerda e seguiu por mais algum tempo. As pequenas vielas da cidade iam ficando cada vez menos movimentadas. Ezequiel nunca fora tão longe em Inosa, mas sabia exatamente aonde estava indo. Em suas idas até a vila para comprar mantimentos e equipamentos ele ouvira falar de um homem com uma habilidade muito especial. Descobriu, certa vez, que o homem morava numa choupana logo na entrada do bosque, afastado do centro da vila. E que era muito pouco visitado. Os únicos que se viam rumando para lá eram sujeitos sempre mal-encarados, grandes e sujos.
O “Ferreiro” como era mais conhecido, era o maior fabricante de armamento e equipamentos para guerra da região. Curiosamente, ele morava e trabalhava em uma vila que dificilmente entraria em uma batalha. Os habitantes de Inosa eram sempre muito pacificos, e resolviam seus problemas com longas conversas e discussões. Alem do mais, ele geralmente não era visto pelos habitantes. Não saia de casa, ao menos de dia. Suas provisões e alimentos para a sua casa eram comprados por sua filha, que perdera a mãe no mesmo dia em que nasceu, e desde então fora criada pelo ferreiro, que não era seu pai verdadeiro. No tempo em que eram casados, o ferreiro nunca soube quem era o pai da menina. A esposa contou que ele havia morrido no dia em que Félix II, atual rei de Hazépt, assumira o trono, depois de uma infindável batalha contra os vilarejos. Quando a esposa morreu dando a luz a menina, ele prometeu cuidar dela como se fosse sua.
Ezequiel chegou ao fim da estradinha e avistou mais a frente, por entre as arvores, uma choupana velha mas muito firme. Acima da porta da frente lia-se numa placa enorme de ferro “Ferreiro John”. Ele caminhou até a parte em que a estrada se mesclava com a floresta e agachou-se por detrás de alguns arbustos. Tinha que esperar até o ferreiro ficar sozinho. Não sabia se a menina era confiável e não queria arriscar para descobrir. Quando o sol estava a pino Ezequiel viu a porta da choupana se abrir e uma forma feminina de capuz projetar-se para fora. Antes de sair ela se virou e disse algo para dentro da casa, fechou a porta e, tomando um cesto vazio em seu braço, seguiu em direção à cidade. Passou por onde Ezequiel estava e ele pode ver o rosto da moça. E ela era linda. Ezequiel nunca havia visto alguém assim em toda a sua vida. No mesmo instante em que viu a moça ele sabia que não havia volta. Havia perdido seu coração, sua alma pra alguém que nem conhecia.
Ela passou sem notar a figura que a observava por entre as folhas. Quando ela sumiu na estrada de Inosa , Ezequiel saiu de seu esconderijo e dirigiu-se a choupana. Subiu as escadas que levavam a entrada sem fazer qualquer ruído. Parou junto ao portal pensando sobre o que estava prestes a fazer. Se entrasse naquela casa sabia que não teria volta. Sua mãe condenaria sua atitude se estivesse viva. Mas não estava. A vida da pessoa que ele mais amou fora roubada na noite anterior. Ele deveria ir embora. Era o que ela diria. Mas ela estava morta e, no lugar onde havia o amor só lhe restou o ódio e a sede de vingança. Ezequiel era outro homem agora. Com uma missão e o conhecimento dos meios para executá-la. E foi com esse pensamento que bateu à porta do ferreiro. Ouviu os passos lá dentro se dirigindo para atender a porta e soube que dali em diante sua vida havia acabado.

Por Akvan P. Belo

Mundo complicado, esse seu!

Dos arranhásseis;
A base de tijolo social
Civilização animal
Perco a sensibilidade!
Não te passa pela cabeça
que a natureza é a melhor sociedade?

Os bichos devoram um ao outro, sim!
Engano teu pensar que os animais
sejam diferentes de ti assim!

Faço mil planos pra construir uma casa
e o tatú faz a toca
De onde vem a farinha, meu amigo,
se não da mandioca?

Engano teu dizer-se civilizado
A sua ciência moderna
não passa de um produto industrializado!
De massas e de multidão
Pra todo aglomerado humano
existe um espertalhão

É tão certo achar que está certo
Quanto o fogo consumir nações
Sempre haverá guerras
Seja qual forem às razões

Um dia destruiremos o mundo
Ou um dia ele nos destruirá
Desculpe-me, mas sua ética
Não o irá nos salvar

None god gonna save you
From hell that you created
Leave yourself see
That have perfection in the imperfection
You're your own creation
result of domination

A sua moral é um pecado contra a humanidade
Seus conceitos reinventam o que é dignidade
Eu sou o caminho e a verdade
A vida e a realidade
A morte e a eternidade
A fuga da liberdade
O amor e a amizade
Me faça a caridade!
Dews!
...
tende piedade!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Por Akvan P. Belo

Adeus colega

As vezes quero dizer adeus e não consigo
tentei ser teu amigo
Entendo que tenha tua opção
Mas como dizer não ao coração?

Você não sabe o mal que me faz
Minha alma doente não caminha em paz
É essa indifereça que me machuca
Perto de ti tudo doi mais

Tento ser paciente, mas não espero
Tento ser amigo, mas me desepero
Guardei uma foto tua no celular
Por nada mesmo. mas está lá

Já sei que não posso contigo
A distancia talvez seja
o melhor abrigo
Não sou o melhor dos amigos teus
Talvez o melhor mesmo seja:
dizer...
Adeus...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ezequiel - Parte Três

Já era madrugada e Ezequiel caminhava sozinho pela longa e escura estrada. Não precisava de iluminação ou guia. Conhecia aquele caminho muito bem. A estrada para a vila de Inosa era movimentada durante o dia, mas agora só se avistava o rapaz e uma ou outra coruja parada à beira do caminho. Era o único lugar que restara para ele. Sua vila havia sido atacada por alguem ou algo tão destrutivo que Ezequiel sequer conseguia imaginar o que seria. O rapaz cresceu aprendendo a se empenhar para proteger sua mãe, seus amigos e seu lar, e em uma só noite alguem o tomou tudo.
Ezequiel caminhava com um longo casaco marrom batendo em sua pernas. Ainda estava um pouco chamuscado graças ao incendio, mas serviria para esconder a couraça que ele levava no peito. O peso do metal não era problema, mas a herança maldita era insuportavel. Ainda mais sabendo que a mesma couraça salvara sua vida quando a casa explodiu e o tornou órfão. A armadura de seu pai. Ezequiel tentava entender as ultimas palavras de sua mãe, mas sempre que se lembrava a sensação de vazio e solidão o invadia, como se crescesse a cada pensamento e lembrança. Ela falava de um tesouro, mas eles sempre foram muito pobres. Ela falou que seu pai fizera tudo para o bem deles, mas ele traiu o reino e a familia, o que os levou à desgraça e à ruina.
Caminhou assim por mais um tempo, quando uma voz surgiu ao seu lado:
- Voce tambem perdeu tudo, não é rapaz? - Ezequiel se virou num sobressalto e viu uma figura estranha, um velho baixinho de capuz branco sujo ao seu lado - Digo, no incendio. Voce morava naquela vila, não? - seus grandes olhos negros fitando Ezequiel.
- Quem é voce? - ele custou a conseguir formular as palavras. Como não ouvira o velho se aproximando?
- Tambem sou um andarilho garoto. Ha muito mais tempo do que voce. Ja o vi varias vezes por essa estrada. Voce morava na vila incendiada, certo?
- Sabe que esta estrada é cheia de ladrões. Devia tomar cuidado ao falar com um estranho na madrugada andando sozinho. - Ezequiel disse sem encará-lo.
- Oh sim, sim. É cheia de ladrões....e de comerciantes. E é isso que eu sou. Um comerciante. Vendo coisas que as pessoas precisam. Eu vim lhe falar na esperança de vende-lo algo, mas suponho que voce deva ter perdido seu dinheiro no incendio.
- Existem coisas mais importantes que o dinheiro, velho - ele disse.
O ancião não respondeu. Ficou calado por algum tempo, se esforçando para acompanhar as passadas de Ezequiel. Quando chegaram a uma bifurcação entra a floresta de Inosa e a continuação da estrada para a vila o velho disse:
- Foi bom caminhar contigo rapaz, e sei que nos reencontraremos.
- O que te dá essa certeza? - respondeu Ezequiel.
- Ora - disse o velho com um sorriso malicioso - todo mundo precisa do mercador um dia. Adeus Ezequiel. - e adentrou a floresta.
Ezequiel voltou a caminhar mas deteve-se com poucos passos. Algo estava errado. Ele nunca dissera seu nome para o velho, e ainda assim, podia jurar que o mesmo o chamara pelo nome. Voltou até a entrada da floresta mas já não adiantaria. Ele não conhecia a floresta, o caminho era escuro e cheio de feras selvagens, e uma chuva fria e fina começou a cair na madrugada. Ezequiel ajeitou o capuz sobre a cabeça e retomou seu caminho. Se tudo desse certo estaria em Inosa ao amanhecer. Enquanto caminhava Ezequiel teve a estranha sensação de que realmente veria o velho novamente, e que não gostaria nada disso.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ezequiel - Parte Dois

Como descrever a cena à sua frente? Como encontrar palavras que mostrassem o horror que Ezequiel agora contemplava ou sequer convencessem sua mente relutante de que tudo era verdade? Ele terminou de descer a colina e continuou rumando para a sua vila com o pensamento fixo na mente. “Ela ainda esta viva, ela esta bem. TEM que estar!” Onde antes estava a vila agora, erguia-se uma coluna de fogo enorme e imponente, que abrangia toda a redondeza. O calor era insuportável antes mesmo de entrar no vilarejo incendiado. Ezequiel entrou naquele inferno sem pensar duas vezes. Enquanto corria desesperado em direção a sua casa ele pode ver amigos e conhecidos mortos ou ainda queimando sem poder ajudar. Aquilo ficaria cravado em sua memória. O garoto que crescera ajudando a todos como podia, tornara-se um homem que agora assistia impotente à extinção de seu lar.
Ezequiel chegou à porta da sua casa arrombando-a com um chute, mas percebeu o quanto errara ao ver o portal da casa desabando graças à fraca estrutura. Jogou-se para dentro exatamente quando a viga-mestre despencava sobre o lugar onde ele estava. Esquadrinhou rapidamente o andar de baixo à procura de sua mãe, mas nada viu. Começo a gritá-la enquanto subia as escadas, que pareciam querer ruir a cada passo que ele dava.
- MÃE!!! MÃE, CADÊ VOCÊ??? RESPONDE!!! – ele gritava sem resposta. Não tinha muito tempo. Sabia que a casa logo desabaria, mas não podia desistir de achar sua mãe. E foi então que um lampejo de esperança se acendeu. “O galpão”- pensou – “ela pode ter se escondido lá.”
O galpão era mais uma caixa abaixo da casa. Ezequiel o construíra ainda jovem para se esconderem de possíveis saques a vila. Saltou as escadas ao descer e se dirigiu à cozinha. Abriu a porta de baixo do armário da porcelana, herança do lado materno da família, e empurrou a madeira do fundo, que rangeu e se afastou revelando a passagem. Ele se agachou e entrou no estreito túnel. Do outro lado havia um cômodo construído escondido de todo o resto dos habitantes. Sua mãe o mandara construir há muito tempo e ela guardara algumas quinquilharias escondidas naquele galpão.
Ele alcançou o fundo do galpão com o coração cheio de esperanças. O quarto estava completamente escuro e ele não fazia idéia de onde haveriam velas ou tochas. Foi quando ele ouviu uma voz mais a frente.
- Ezequiel –disse em meio à tosse – é você?
- Mãe, a senhora esta bem? – ele tateava o escuro à sua procura – Onde a senhora está? Deixe-me vê-la.
- Não! – ela se apressou em dizer – Fique exatamente onde está, filho. Pro seu bem, ouça o que tenho a lhe dizer.
- Não temos tempo, mãe. A vila, ela foi atacada. O exército pode voltar a qualquer momento.
- Não filho, não foi o exército. Foi pior. Eu sabia que ela ia voltar um dia querendo meu tesouro, mas não achei que eu estaria tão despreparada. E sem o seu pai aqui, não há muito o que fazer.
- Do que a senhora esta falando, mãe? – o rapaz ouviu o casebre rangendo bem ao fundo.
- Só quero que você se lembre que ele ainda te ama, filho. Pegue, foi o ultimo presente pra você – ele pôde ouvi-la abrindo um baú. – Vista isso Ezequiel. – ele sentiu as mãos tremulas de sua mãe colocando algo em seu peito, mas antes que pudesse encontrá-las a parede do túnel explodiu com o desabamento da casa.
Ezequiel foi lançado para frente como um boneco de pano. Ao se levantar notou o abrigo mais iluminado do que antes. A explosão abrira um rombo na parede do túnel e a luz do fogo iluminava o pequeno galpão. Ele se levantou retirando as poucas pedras de cima de si. Sua mãe jazia inerte caída a frente do baú, e em seu peito, à luz do fogo, reluzia uma couraça de prata tão linda quanto odiada por Ezequiel. Ele vestia a armadura de seu pai.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ezequiel - Parte Um

O sol mal havia se levantado e Ezequiel já pusera-se a trabalhar. Acordou cedo, tomou o desjejum e subiu a colina para cortar lenha. O inverno estava chegando e ele e sua mãe precisavam se aquecer da maneira que podiam. Não era fácil levar uma vida pobre e humilde como a deles, mas viviam afastados da cidade, num vilarejo pequeno com pessoas tão pobres quanto eles, se não mais. A mãe de Ezequiel, Ruth, tentava ajudar o filho como podia. Quando ele se levantava para o labor ela tentava arrumar a casa e preparar algo para comerem. Ela sabia que ele não a permitiria trabalhar enquanto estivesse doente como ela estava, mas era só o rapaz sair, e ela já se empenhava para poupa-lo de tanto trabalho.
Do alto da campina verde onde trabalhava, Ezequiel podia vigiar sua aldeia contra os constantes saques que sofriam. O exército do rei era impiedoso e os impostos altos demais para todos que ali viviam. Haviam poucos homens na vila e menos guerreiros ainda. A maioria havia morrido na guerra do reino de Házept. O pai de Ezequiel tinha sido um dos traidores de seu reino, e quando descoberto, condenado à prisão perpetua nas masmorras do rei. Ele poderia facilmente ter sido enforcado como os demais, mas era tão ardiloso e tão inteligente que o rei o guardara como estrategista de guerra. Vivia uma vida de nobre na masmorra. Nada que pudesse reclamar. Ezequiel e sua mãe foram condenados à vergonha e tiveram que se mudar de vilarejo constantemente.
Havia uma lenda no reino de Házept que descrevia um ser místico que libertaria o povo da opressão e da tirania quando o povo mais precisasse. O ser era descrito como um guerreiro com seis asas de anjo e uma enorme espada reluzente. Em tempos dificeis o povo precisava de algo em que acreditar e nesse momentos as velhas crencas e profecias esquecidas vinham bem a calhar. Ezequiel não cria na lenda e nem em esperancas míticas. Ele se indagava “porque eu devo depositar minhas esperancas em um ser irreal se meu sofrimeto é real?” Sua mãe tentava de todas as formas mostrar o quanto ele estava errado em pensar dessa maneira, mas o rapaz não dava ouvidos. Em parte, seu ódio às crencas antigas vinha do fato de seu pai ter sido um sacerdote da mesma religião. E Ezequiel odiava seu pai. Odiava muito.
Quando o sol comecou a baixar e a lua a ascender, Ezequiel se encaminhou para sua casa. A lenha que conseguira cortar os aqueceria por uns dois dias. Iria atras de alimento amanha. Se houvesse amanha. Do topo da colina ele contemplou algo que jamais havia imaginado. Ele resolvera ir mais adentro da floresta, contrariando os pedidos de sua mãe. Aquela floresta guardava algo perigoso e tão antigo quanto a terra. Ele foi mais longe hoje atras de lenha seca e agora pagava caro por sua desobediencia. Não acreditava no que via, mais sabia que era verdade em seu amago.
O sol se punha atras da colina, mas ainda podia se ver a figura de Ezequiel correndo desesperado ladeira abaixo, rumando para onde antes havia sua vila. Enquanto descia sua voz repetia as mesmas palavras em sua mente, como se cravasse os pregos de sua cruz “A aldeia foi atacada...e voce não estava lá...”

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aviso aos seguidores do blog!!!!

Olá queridos seguidorese caros leitores. O conto que publico nesta sexta é o prelúdio de uma história maior, portanto, não pensem que perderam alguma postagem. Como já disse, postarei toda sexta feira. Tambem devo ressaltar que a coincidencia de nomes dos protagonistas de ambos os contos não passa de mera casualidade. Não são os mesmos personagens, é apenas um nome que gosto, além do mais, a saga que se iniciará agora já povoava minha mente antes de me vir a ideia de montar o blog. Espero que curtam "A batalha de Ezequiel - Prelúdio" Mais uma vez obrigado por seguirem o blog e por enviarem suas sinceras e valiosas opiniões. O elogio e a crítica sinceras são as maiores alegrias deste que vos escreve.
Eternamente agradecido: God's Hammer

"Ezequiel - Prelúdio"


Não era assim que ele havia planejado morrer. Na verdade, não era em nada parecido com sua idéia de fim da vida. Ezequiel tinha pensado que morreria bem velhinho, com sua esposa a seu lado deitados na cama. Mas agora temia que o destino tivesse outros planos para ele.
Ao se levantar dos escombros ele percebeu seu temor se confirmando. A noite estava escura e as únicas iluminações vinham da lua que, no momento, se escondia atrás de algumas nuvens cinzentas, e dos entulhos do abrigo incendiado. Em meio à penumbra Ezequiel viu os olhos amarelos da criatura acenderem e sentiu um frio escalar a sua espinha.
Analisou rapidamente os danos sofridos. Duas costelas quebradas do lado esquerdo e uma do direito, fora o ombro esquerdo, deslocado quando a parede tombou sobre seu corpo. Só sobreviveu graças à armadura. A armadura. Ela sempre o protegera, embora, a essa altura, estivesse bem danificada. Feita de pura prata e abençoada por Deus, era lamentável vê-la nesse estado.
O som da criatura se movendo o despertou do transe. O que fazer? Ela se aproximava lenta e ameaçadoramente, sem se precipitar, saboreando uma presa que ela sabia estar encurralada. Ezequiel vasculhou o campo de batalha com os olhos rapidamente, procurando por sua espada. Viu a arma fincada no chão mais a frente, muito longe dele, muito perto da criatura. A enorme besta estava cada vez mais perto. O rapaz podia sentir a terra tremendo a cada passo dela e o seu hálito quente com aroma de sangue dado por tantas vitimas inocentes.
Precisava tomar uma decisão e agir rápido. Lembrou de sua amada e de tudo o que estava em jogo naquela noite e fez sua escolha. Virou-se de modo a ficar de frente a criatura. Encarava-a nos olhos transformando o seu medo em ódio. Sem sua espada seria difícil derrotá-la, mas não chegara tão longe pra fugir, e morrer não era uma opção. A besta abriu a boca se preparando para o ataque. E lá longe, na campina, um lobo solitário uivava.

domingo, 25 de abril de 2010

Esse foi enviado por Akvan P. Belo

Seguindo no vazio

Se caminho
sem ter por onde andar
Sozinho
Qualquer canto é meu lugar

Pessoas falam coisas que não entendo
Chamam meu nome
Não sei quem sou
Mas eu atendo

Murmurram
fazem briga por nada
Querem coisas de mais
Eu não escuto
fico mudo
Sigo a estrada

Debaixo da sombra de uma arvore
Sinto bem
A lembrança ascende uma marca
no peito um risco de faca
Arde a falta que faz alguém

Coração defunto o meu
Frio
Fede a alma de quem já morreu
sete palmos o fazem distante de tudo
Se não me mata o escuro
me mata eu

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Primeiro Conto que posto

A noite escura, a fraca iluminação da casa e a garrafa de uísque destampada sobre a mesa contribuíam para a construção do cenário lúgubre e depressivo do local. O velho relógio cuco tiquetaqueava cronometrando o silencio e a respiração de Ezequiel enquanto ele tamborilava os dedos na mesa acompanhando o ritmo. Eles estavam pra chegar. Josias e Caroline. Amigos de juventude.
Ezequiel nasceu em uma família rica e poderosa. Por ser o único filho, ou talvez por sentimento de culpa dos pais, eles o enchiam de regalias e mimos. Ele, é claro, não reclamava. Na noite do seu aniversario de oito anos ele acordou com o pai sentado em sua cama, com os olhos cheios de lagrimas.
— Papai, o que aconteceu?
— Só vim te dar boa noite, filho, e dizer que sinto muito. Eu te amo mais do que tudo. – o pai acariciava os cabelos negros do garoto – sinto muito mesmo.
— Do que esta falando, pai? Aconteceu alguma coisa?
— Não filho, nada. Agora durma. Boa noite, meu anjo. Eu te amo.
— Boa noite, pai. Também amo você mais do que tudo.
O pai derramou mais algumas lagrimas, cobriu o garoto e o beijou no rosto. Saiu do quarto em silencio. Ezequiel adormeceu rapidamente. Amava muito o pai e de manha poderia perguntar o que houve.
Mas não houve amanhecer para ele. Quando acordou de manha o pai sumira. Sua mãe dissera que ele viajara a negócios e não sabia quando voltaria. Mas ele sabia que não era verdade. O pai se fora. Perdera seu maior herói e amigo, para sempre talvez.
Sua mãe mudou muito depois que seu pai foi embora. Ela parecia não sentir falta dele e até, diga-se de passagem, parecia gostar que ele tivesse sumido. Quando ela criou coragem para lhe contar o que havia acontecido, Ezequiel já era grande o suficiente para ter deduzido sozinho. O rapaz já tinha quinze anos e, ainda assim, ouvia a historia que a mãe contava com a maior surpresa que conseguia. O rapaz poderia ser um grande ator. Ficava em silencio enquanto ouvia a mãe contar como o pai os deixara dizendo que não amava nenhum dos dois e que tinha outra família agora. Isso acontecia toda noite após o jantar. Ele ganhava uma sobremesa e ela ficava pendurada à garrafa de vinho. Quando a bebida fazia efeito ela começava sua narrativa. Quando terminava de contar suas mentiras mandava o garoto pra cama e dizia ir se deitar. Não tardou muito para Ezequiel descobrir que isso também era mentira.
Certa noite ele notou que a mãe não fazia barulho algum para ir se deitar. “Uma cama tão velha, deveria fazer algum ruído quando ela se deita.” Pensara consigo. Mas o silencio permanecia. Foi então que ele ouviu os passos de leve vindo em direção a seu quarto. Ele fingiu estar dormindo quando a mãe abriu a porta de leve e espiou pra dentro do lugar. Certificou-se de que ele dormia e encostou a porta de leve. Desceu as escadas com o maior cuidado possível e abriu a porta da frente. Os criados já haviam se deitado no quarto no fundo da casa. Ezequiel olhou pela sua janela e viu sua mãe acenando da porta para o breu do portão. Um farol se acendeu do outro lado, para a surpresa do garoto. Ela abriu o portão e deixou o carro passar. Ele foi o mais silencioso possível e estacionou em frente à casa. O homem de terno de risca de giz desceu, e entrou na casa atrás de sua mãe. Eles subiram sussurrando tão baixo que Ezequiel não pode entender. Ao passarem pelo quarto a mãe espiou de novo. Ele continuava deitado. Ela fechou a porta e foram para o quarto dela. A porta foi trancada.
Após essa noite Ezequiel passou a vigiar sempre que conseguia. Ela tinha um padrão para o encontro. Depois que o velho cuco batia as doze badaladas ela verificava se o rapaz dormia e descia as escadas, exatamente como antes. Dificilmente ele via os mesmos homens descerem do carro. Os carros mudavam, os ternos mudavam, os homens mudavam, mas todos iam lá pelo mesmo motivo.
Quando completou dezoito anos, Ezequiel ficou órfão de mãe. Uma noite em que ele saira para ir ao teatro a mãe e um amigo foram assassinados brutalmente por um intruso. Curiosamente, a mãe de Ezequiel dispensara todos os empregados naquela tarde, alegando que, uma vez que o filho ia ao teatro, ela queria um pouco de paz e sossego para descansar. E foi só isso que o jornal divulgou. Ezequiel assumiu uma enorme herança e o papel de homem da casa.
Ele provavelmente teria crescido como um jovem solitário se não fosse por Caroline, uma vizinha de seu casarão. A garota lera a noticia da morte da mãe de Ezequiel e foi prestar suas condolências, e foi ai que se conheceram. Tinham quase a mesma idade, logo, se davam muito bem. Ezequiel era o melhor amigo da garota, o que parecia ser bom. Para ela.
Um ano e meio depois, um jovem apareceu a porta de Ezequiel em resposta ao anuncio de quartos para alugar. Josias dissera ser um viajante que precisava de um lugar para ficar, mais que dispunha de pouco dinheiro. As hospedarias e hotéis da cidade que não estavam lotados cobravam caro. Ezequiel era rico então cobrou um preço barato de josias. Não tardou para que se tornassem amigos também. O rapaz arrumou um ótimo emprego para o viajante em sua empresa. Bom salário por pouco serviço. Ezequiel, Josias e Caroline se tornaram inseparáveis. Faziam tudo juntos. Poucos anos depois Josias e Caroline se aproximavam cada vez mais. Os dois vinham de famílias da classe media, logo, tinham mais em comum entre si do que Ezequiel com qualquer um dos dois. O jovem se magoava cada vez que via a maneira como se olhavam. Especialmente como ela olhava para Josias e não para ele. Ele sabia que tinha muito mais a oferecer do que um viajante que não tinha onde cair morto até ele ter ajudado. Por que, então ela escolheria Josias? O que o tornava tão digno, ou pior, o que tornava Ezequiel indigno de seu amor? Resolvera que só tinha uma solução. Resignar-se e permitir a paixão de ambos. Ele não poderia fazer nada para separá-los e sabia que era o tipo de amor que dura até a morte.
O relógio voltou a badalar despertando Ezequiel do transe e da angustia. Eles já estavam chegando. Dava pra ouvir o ronco do carro vindo pela viela escura que levava até sua mansão. Ele reconheceria em qualquer lugar, afinal, era o seu carro. Emprestara a Josias, ele queria impressionar a moça. Josias confidenciara a Ezequiel seu plano para a noite. Jantar com Caroline em um lugar chique, cinema ou talvez teatro, chegariam em casa onde Ezequiel os esperaria com a garrafa de espumante para comemorar e , ajoelhado à porta da frente, Josias pediria Caroline em casamento.
Ezequiel subiu as escadas lentamente até o seu quarto. Cada passo marcava sua sentença do fim. Guardara o anel para que Josias não o perdesse, afinal, o rapaz trabalhou duro para comprar a peça, e não aceitou qualquer empréstimo de Ezequiel. Foi até a gaveta e pegou o presente esperado. Desceu e esperou pacientemente ao lado do interfone. O aparelho tocou e a luz vermelha iluminou o rosto de Ezequiel brevemente. Ele apertou o botão e abriu a porta enquanto via o carro entrar no enorme pátio da mansão. Como um vislumbre do futuro ele viu tudo o que aconteceria. Sabia que era o fim, mas ainda assim conseguiu sorrir. Tudo estava bem. Eles chegariam rindo até a porta. Ele perguntaria como foi a noite, mesmo sabendo a resposta de Caroline. Ele repetiria as palavras que Josias pediu “tenho um presente pra vocês”. Eles estavam se aproximando. Ezequiel ativou a trava elétrica do portão. Sabia exatamente como faria. Acertaria Josias no estomago e Caroline nas pernas. Nenhum dos dois tentaria fugir e ambos estariam vivos para ouvir Ezequiel se declarando para Caroline. Depois acertaria Josias na cabeça para Caroline ver a morte de seu amado. Por ultimo atiraria em seu amor no peito, pra fazer senti-la um décimo da dor que ele sentiu tanto tempo. Sim, mataria os dois traidores. Com a mesma arma que usou para matar a própria mãe.

By: Jôder Filho