quarta-feira, 26 de maio de 2010

Por Akvan P. Belo

Adeus colega

As vezes quero dizer adeus e não consigo
tentei ser teu amigo
Entendo que tenha tua opção
Mas como dizer não ao coração?

Você não sabe o mal que me faz
Minha alma doente não caminha em paz
É essa indifereça que me machuca
Perto de ti tudo doi mais

Tento ser paciente, mas não espero
Tento ser amigo, mas me desepero
Guardei uma foto tua no celular
Por nada mesmo. mas está lá

Já sei que não posso contigo
A distancia talvez seja
o melhor abrigo
Não sou o melhor dos amigos teus
Talvez o melhor mesmo seja:
dizer...
Adeus...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ezequiel - Parte Três

Já era madrugada e Ezequiel caminhava sozinho pela longa e escura estrada. Não precisava de iluminação ou guia. Conhecia aquele caminho muito bem. A estrada para a vila de Inosa era movimentada durante o dia, mas agora só se avistava o rapaz e uma ou outra coruja parada à beira do caminho. Era o único lugar que restara para ele. Sua vila havia sido atacada por alguem ou algo tão destrutivo que Ezequiel sequer conseguia imaginar o que seria. O rapaz cresceu aprendendo a se empenhar para proteger sua mãe, seus amigos e seu lar, e em uma só noite alguem o tomou tudo.
Ezequiel caminhava com um longo casaco marrom batendo em sua pernas. Ainda estava um pouco chamuscado graças ao incendio, mas serviria para esconder a couraça que ele levava no peito. O peso do metal não era problema, mas a herança maldita era insuportavel. Ainda mais sabendo que a mesma couraça salvara sua vida quando a casa explodiu e o tornou órfão. A armadura de seu pai. Ezequiel tentava entender as ultimas palavras de sua mãe, mas sempre que se lembrava a sensação de vazio e solidão o invadia, como se crescesse a cada pensamento e lembrança. Ela falava de um tesouro, mas eles sempre foram muito pobres. Ela falou que seu pai fizera tudo para o bem deles, mas ele traiu o reino e a familia, o que os levou à desgraça e à ruina.
Caminhou assim por mais um tempo, quando uma voz surgiu ao seu lado:
- Voce tambem perdeu tudo, não é rapaz? - Ezequiel se virou num sobressalto e viu uma figura estranha, um velho baixinho de capuz branco sujo ao seu lado - Digo, no incendio. Voce morava naquela vila, não? - seus grandes olhos negros fitando Ezequiel.
- Quem é voce? - ele custou a conseguir formular as palavras. Como não ouvira o velho se aproximando?
- Tambem sou um andarilho garoto. Ha muito mais tempo do que voce. Ja o vi varias vezes por essa estrada. Voce morava na vila incendiada, certo?
- Sabe que esta estrada é cheia de ladrões. Devia tomar cuidado ao falar com um estranho na madrugada andando sozinho. - Ezequiel disse sem encará-lo.
- Oh sim, sim. É cheia de ladrões....e de comerciantes. E é isso que eu sou. Um comerciante. Vendo coisas que as pessoas precisam. Eu vim lhe falar na esperança de vende-lo algo, mas suponho que voce deva ter perdido seu dinheiro no incendio.
- Existem coisas mais importantes que o dinheiro, velho - ele disse.
O ancião não respondeu. Ficou calado por algum tempo, se esforçando para acompanhar as passadas de Ezequiel. Quando chegaram a uma bifurcação entra a floresta de Inosa e a continuação da estrada para a vila o velho disse:
- Foi bom caminhar contigo rapaz, e sei que nos reencontraremos.
- O que te dá essa certeza? - respondeu Ezequiel.
- Ora - disse o velho com um sorriso malicioso - todo mundo precisa do mercador um dia. Adeus Ezequiel. - e adentrou a floresta.
Ezequiel voltou a caminhar mas deteve-se com poucos passos. Algo estava errado. Ele nunca dissera seu nome para o velho, e ainda assim, podia jurar que o mesmo o chamara pelo nome. Voltou até a entrada da floresta mas já não adiantaria. Ele não conhecia a floresta, o caminho era escuro e cheio de feras selvagens, e uma chuva fria e fina começou a cair na madrugada. Ezequiel ajeitou o capuz sobre a cabeça e retomou seu caminho. Se tudo desse certo estaria em Inosa ao amanhecer. Enquanto caminhava Ezequiel teve a estranha sensação de que realmente veria o velho novamente, e que não gostaria nada disso.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ezequiel - Parte Dois

Como descrever a cena à sua frente? Como encontrar palavras que mostrassem o horror que Ezequiel agora contemplava ou sequer convencessem sua mente relutante de que tudo era verdade? Ele terminou de descer a colina e continuou rumando para a sua vila com o pensamento fixo na mente. “Ela ainda esta viva, ela esta bem. TEM que estar!” Onde antes estava a vila agora, erguia-se uma coluna de fogo enorme e imponente, que abrangia toda a redondeza. O calor era insuportável antes mesmo de entrar no vilarejo incendiado. Ezequiel entrou naquele inferno sem pensar duas vezes. Enquanto corria desesperado em direção a sua casa ele pode ver amigos e conhecidos mortos ou ainda queimando sem poder ajudar. Aquilo ficaria cravado em sua memória. O garoto que crescera ajudando a todos como podia, tornara-se um homem que agora assistia impotente à extinção de seu lar.
Ezequiel chegou à porta da sua casa arrombando-a com um chute, mas percebeu o quanto errara ao ver o portal da casa desabando graças à fraca estrutura. Jogou-se para dentro exatamente quando a viga-mestre despencava sobre o lugar onde ele estava. Esquadrinhou rapidamente o andar de baixo à procura de sua mãe, mas nada viu. Começo a gritá-la enquanto subia as escadas, que pareciam querer ruir a cada passo que ele dava.
- MÃE!!! MÃE, CADÊ VOCÊ??? RESPONDE!!! – ele gritava sem resposta. Não tinha muito tempo. Sabia que a casa logo desabaria, mas não podia desistir de achar sua mãe. E foi então que um lampejo de esperança se acendeu. “O galpão”- pensou – “ela pode ter se escondido lá.”
O galpão era mais uma caixa abaixo da casa. Ezequiel o construíra ainda jovem para se esconderem de possíveis saques a vila. Saltou as escadas ao descer e se dirigiu à cozinha. Abriu a porta de baixo do armário da porcelana, herança do lado materno da família, e empurrou a madeira do fundo, que rangeu e se afastou revelando a passagem. Ele se agachou e entrou no estreito túnel. Do outro lado havia um cômodo construído escondido de todo o resto dos habitantes. Sua mãe o mandara construir há muito tempo e ela guardara algumas quinquilharias escondidas naquele galpão.
Ele alcançou o fundo do galpão com o coração cheio de esperanças. O quarto estava completamente escuro e ele não fazia idéia de onde haveriam velas ou tochas. Foi quando ele ouviu uma voz mais a frente.
- Ezequiel –disse em meio à tosse – é você?
- Mãe, a senhora esta bem? – ele tateava o escuro à sua procura – Onde a senhora está? Deixe-me vê-la.
- Não! – ela se apressou em dizer – Fique exatamente onde está, filho. Pro seu bem, ouça o que tenho a lhe dizer.
- Não temos tempo, mãe. A vila, ela foi atacada. O exército pode voltar a qualquer momento.
- Não filho, não foi o exército. Foi pior. Eu sabia que ela ia voltar um dia querendo meu tesouro, mas não achei que eu estaria tão despreparada. E sem o seu pai aqui, não há muito o que fazer.
- Do que a senhora esta falando, mãe? – o rapaz ouviu o casebre rangendo bem ao fundo.
- Só quero que você se lembre que ele ainda te ama, filho. Pegue, foi o ultimo presente pra você – ele pôde ouvi-la abrindo um baú. – Vista isso Ezequiel. – ele sentiu as mãos tremulas de sua mãe colocando algo em seu peito, mas antes que pudesse encontrá-las a parede do túnel explodiu com o desabamento da casa.
Ezequiel foi lançado para frente como um boneco de pano. Ao se levantar notou o abrigo mais iluminado do que antes. A explosão abrira um rombo na parede do túnel e a luz do fogo iluminava o pequeno galpão. Ele se levantou retirando as poucas pedras de cima de si. Sua mãe jazia inerte caída a frente do baú, e em seu peito, à luz do fogo, reluzia uma couraça de prata tão linda quanto odiada por Ezequiel. Ele vestia a armadura de seu pai.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ezequiel - Parte Um

O sol mal havia se levantado e Ezequiel já pusera-se a trabalhar. Acordou cedo, tomou o desjejum e subiu a colina para cortar lenha. O inverno estava chegando e ele e sua mãe precisavam se aquecer da maneira que podiam. Não era fácil levar uma vida pobre e humilde como a deles, mas viviam afastados da cidade, num vilarejo pequeno com pessoas tão pobres quanto eles, se não mais. A mãe de Ezequiel, Ruth, tentava ajudar o filho como podia. Quando ele se levantava para o labor ela tentava arrumar a casa e preparar algo para comerem. Ela sabia que ele não a permitiria trabalhar enquanto estivesse doente como ela estava, mas era só o rapaz sair, e ela já se empenhava para poupa-lo de tanto trabalho.
Do alto da campina verde onde trabalhava, Ezequiel podia vigiar sua aldeia contra os constantes saques que sofriam. O exército do rei era impiedoso e os impostos altos demais para todos que ali viviam. Haviam poucos homens na vila e menos guerreiros ainda. A maioria havia morrido na guerra do reino de Házept. O pai de Ezequiel tinha sido um dos traidores de seu reino, e quando descoberto, condenado à prisão perpetua nas masmorras do rei. Ele poderia facilmente ter sido enforcado como os demais, mas era tão ardiloso e tão inteligente que o rei o guardara como estrategista de guerra. Vivia uma vida de nobre na masmorra. Nada que pudesse reclamar. Ezequiel e sua mãe foram condenados à vergonha e tiveram que se mudar de vilarejo constantemente.
Havia uma lenda no reino de Házept que descrevia um ser místico que libertaria o povo da opressão e da tirania quando o povo mais precisasse. O ser era descrito como um guerreiro com seis asas de anjo e uma enorme espada reluzente. Em tempos dificeis o povo precisava de algo em que acreditar e nesse momentos as velhas crencas e profecias esquecidas vinham bem a calhar. Ezequiel não cria na lenda e nem em esperancas míticas. Ele se indagava “porque eu devo depositar minhas esperancas em um ser irreal se meu sofrimeto é real?” Sua mãe tentava de todas as formas mostrar o quanto ele estava errado em pensar dessa maneira, mas o rapaz não dava ouvidos. Em parte, seu ódio às crencas antigas vinha do fato de seu pai ter sido um sacerdote da mesma religião. E Ezequiel odiava seu pai. Odiava muito.
Quando o sol comecou a baixar e a lua a ascender, Ezequiel se encaminhou para sua casa. A lenha que conseguira cortar os aqueceria por uns dois dias. Iria atras de alimento amanha. Se houvesse amanha. Do topo da colina ele contemplou algo que jamais havia imaginado. Ele resolvera ir mais adentro da floresta, contrariando os pedidos de sua mãe. Aquela floresta guardava algo perigoso e tão antigo quanto a terra. Ele foi mais longe hoje atras de lenha seca e agora pagava caro por sua desobediencia. Não acreditava no que via, mais sabia que era verdade em seu amago.
O sol se punha atras da colina, mas ainda podia se ver a figura de Ezequiel correndo desesperado ladeira abaixo, rumando para onde antes havia sua vila. Enquanto descia sua voz repetia as mesmas palavras em sua mente, como se cravasse os pregos de sua cruz “A aldeia foi atacada...e voce não estava lá...”