segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ezequiel - Parte Três

Já era madrugada e Ezequiel caminhava sozinho pela longa e escura estrada. Não precisava de iluminação ou guia. Conhecia aquele caminho muito bem. A estrada para a vila de Inosa era movimentada durante o dia, mas agora só se avistava o rapaz e uma ou outra coruja parada à beira do caminho. Era o único lugar que restara para ele. Sua vila havia sido atacada por alguem ou algo tão destrutivo que Ezequiel sequer conseguia imaginar o que seria. O rapaz cresceu aprendendo a se empenhar para proteger sua mãe, seus amigos e seu lar, e em uma só noite alguem o tomou tudo.
Ezequiel caminhava com um longo casaco marrom batendo em sua pernas. Ainda estava um pouco chamuscado graças ao incendio, mas serviria para esconder a couraça que ele levava no peito. O peso do metal não era problema, mas a herança maldita era insuportavel. Ainda mais sabendo que a mesma couraça salvara sua vida quando a casa explodiu e o tornou órfão. A armadura de seu pai. Ezequiel tentava entender as ultimas palavras de sua mãe, mas sempre que se lembrava a sensação de vazio e solidão o invadia, como se crescesse a cada pensamento e lembrança. Ela falava de um tesouro, mas eles sempre foram muito pobres. Ela falou que seu pai fizera tudo para o bem deles, mas ele traiu o reino e a familia, o que os levou à desgraça e à ruina.
Caminhou assim por mais um tempo, quando uma voz surgiu ao seu lado:
- Voce tambem perdeu tudo, não é rapaz? - Ezequiel se virou num sobressalto e viu uma figura estranha, um velho baixinho de capuz branco sujo ao seu lado - Digo, no incendio. Voce morava naquela vila, não? - seus grandes olhos negros fitando Ezequiel.
- Quem é voce? - ele custou a conseguir formular as palavras. Como não ouvira o velho se aproximando?
- Tambem sou um andarilho garoto. Ha muito mais tempo do que voce. Ja o vi varias vezes por essa estrada. Voce morava na vila incendiada, certo?
- Sabe que esta estrada é cheia de ladrões. Devia tomar cuidado ao falar com um estranho na madrugada andando sozinho. - Ezequiel disse sem encará-lo.
- Oh sim, sim. É cheia de ladrões....e de comerciantes. E é isso que eu sou. Um comerciante. Vendo coisas que as pessoas precisam. Eu vim lhe falar na esperança de vende-lo algo, mas suponho que voce deva ter perdido seu dinheiro no incendio.
- Existem coisas mais importantes que o dinheiro, velho - ele disse.
O ancião não respondeu. Ficou calado por algum tempo, se esforçando para acompanhar as passadas de Ezequiel. Quando chegaram a uma bifurcação entra a floresta de Inosa e a continuação da estrada para a vila o velho disse:
- Foi bom caminhar contigo rapaz, e sei que nos reencontraremos.
- O que te dá essa certeza? - respondeu Ezequiel.
- Ora - disse o velho com um sorriso malicioso - todo mundo precisa do mercador um dia. Adeus Ezequiel. - e adentrou a floresta.
Ezequiel voltou a caminhar mas deteve-se com poucos passos. Algo estava errado. Ele nunca dissera seu nome para o velho, e ainda assim, podia jurar que o mesmo o chamara pelo nome. Voltou até a entrada da floresta mas já não adiantaria. Ele não conhecia a floresta, o caminho era escuro e cheio de feras selvagens, e uma chuva fria e fina começou a cair na madrugada. Ezequiel ajeitou o capuz sobre a cabeça e retomou seu caminho. Se tudo desse certo estaria em Inosa ao amanhecer. Enquanto caminhava Ezequiel teve a estranha sensação de que realmente veria o velho novamente, e que não gostaria nada disso.

Um comentário:

  1. já falei q o julio verne tá perdendo pra vc?
    pois é!e q se tiver uns livros iguais ou melhores q seus conto em serie me indica ,please!

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