sábado, 30 de outubro de 2010

Mahasiah - por Jôder Filho

Capítulo 1: Caçada na Noite

É incrível a capacidade do ser humano de se focar em banalidades e futilidades. São duas horas da madruga e eu na rua. Uma chuva fina e gelada cai sobre minha cabeça desprotegida. O vento frio matinal passa por mim como se sussurrasse "Não vá! Volte pra casa. “Ainda dá tempo de consertar tudo.” Sei que o vento não sussurra, nem fala, então concluo que é a minha consciência. Eu a mando pro inferno e a amaldiçôo com um palavrão. "Meio tarde pra avisar, não acha?" penso. Não sei se é pelo horário ou pela chuva e o frio, mas a rua está mais deserta que qualquer lugar. Nem mesmo as janelas das casas e dos prédios emitem qualquer luz. Bem conveniente pra ele. Mais duas quadras e chego ao meu destino.
Aperto o passo para não me atrasar embora eu saiba que ele vai esperar o quanto for preciso. Ele mesmo disse que esperou séculos por alguém como eu. Eu esperei vinte anos. Desde que soube de sua existência eu o quis. As lembranças da noite em que minha mãe me contou o meu propósito na vida e o meu dever como caçador me invadem como um trem bala. Minha mãe. Tão linda e tão jovem. Ele a tomou. Qualquer caçador vai atrás de vampiros. Qualquer caçador persegue bruxas, até os piores. Menos eu. Não que eu já não tenha feito nenhuma dessas coisas. Fiz sim. Matei mais vampiros que o próprio Van Helsing. Queimei mais bruxas que a Inquisição. Mas, ao contrário dos caçadores comuns, não encarei como aventuras e trabalho. Era tudo treinamento. Preparação para dias piores. E eles chegaram. Há duas semanas eu o encontrei. Acho que ele queria que eu o encontrasse, ele sabe se esconder muito bem quando quer. Era óbvio que ele queria me ver. Dessa vez eu vou pôr um ponto final nisso. Essa bosta acaba hoje.
Um casal briga num apartamento próximo. Tão alto que mal consigo ouvir meus pensamentos. Distingo certas palavras e maldiçoes mutuas. “Nada nunca está bom pra você, não é?” e ela responde “Porque você não morre? Ou talvez morra eu de desgosto!”. Eles não sabem o quanto estão próximos da verdade, se eu falhar. Mas não vou falhar. Eu nasci pra isso. Treinei pra isso. Vivi pra isso!
Um vento frio passa cortando meu rosto. Levada pelo vento eu ouço a risada dele. Bem baixinho. Bem de leve. Como se o próprio vento quisesse me lembrar do porquê de estar andando. Só mais uma quadra. O fato de ele saber que eu estou indo pra lá deveria me paralisar de medo. Mas a esperança de que meu plano o surpreenda me aquece de novo. Aperto o passo mais uma vez, tentando descontar minha ansiedade nas pernas e passos. Não posso estar ansioso quando a hora chegar. Tenho que ser preciso. Tenho que ser frio. A coragem precisa me encher a ponto de sufocar o medo. Eu preciso esquecer qualquer coisa que me leve ao arrependimento. Deixarei pra me arrepender depois, do contrário, talvez nem termine minha empreitada. E preciso terminá-la. Afinal, não é todo dia que se mata um deles. Meu nome é Elias Nascimento Batista. Sou um caçador. E, creiam ou não, queridos leitores. Essa é a história de como matei um anjo.

Aviso aos leitores e/ou seguidores do blog!

Olá, queridos seguidores e leitores. Espero que estejam gostando da saga de Ezequiel porque eu, honestamente, estou adorando fazê-lá. Tenho recebido cobranças, elogios e sugestões de vários de vocês, o que me alegra muito. Hoje venho avisar algo muito especial. Começarei hoje a postar uma nova história que estou escrevendo, intitulada "O Caçador". Antes de mais nada, quero avisar que não deixarei de publicar "A Batalha de Ezequiel". Na verdade, meu plano é publicá-las alternadamente. Dessa forma, a leitura do blog não fica massante e posso postar com mais calma. Minha idéia é postar numa semana "O Caçador" e "A batalha de Ezequiel" na outra. Volto a afirmar que espero ouvir/ler sugestões, críticas, dúvidas e qualquer pergunta que tiverem. Deixarei meu endereço de e-mail ao fim do post, para os que desejarem contato. Agradeço mais uma vez pelo carinho e a atenção que dedicam a este humilde escritor e espero que gostem do novo conto. Sem mais delongas, muito obrigado.
By: Jôder Filho - dinho_logan@hotmail.com

sábado, 23 de outubro de 2010

Ezequiel - Parte Sete

Por entre as árvores e arbustos, Valéria corria desesperada, ainda sem acreditar no que seus olhos tinham acabado de ver. Aquilo era bestial. E estava atrás dela. O velho havia feito algo, não sabia se era magia ou qualquer outra coisa, mas sabia que foi ele. Tudo o que lhe restava agora era chegar à sua casa. Enquanto corria, outra resposta lhe ocorreu. Marcus. Ele podia ajudá-la. Deveria estar a meio caminho da choupana dele. Poderia chegar lá se corresse. Se sobrevivesse.
Longe dali, o ferreiro John também corria. Tinha que chegar a tempo. Sua filha corria perigo e ele tinha que salvá-la. Não iria agüentar perde-la também. Sua mão direita empunhava um machado de guerra feito por seu pai. Nunca houve uma arma tão resistente feita por alguém. Exceto, é claro... outro grito! Afastou os pensamentos e tentou manter o ritmo. Não tinha mais o mesmo físico de antes. Há anos não corria e nem lutava, e agora, implorava para que seu velho corpo agüentasse. Outra coisa lhe ocorreu. Marcus. Se Valéria corria para casa, a casa dele estava no meio do caminho. Se ela fosse esperta, e ela era, iria para lá. Se ele chegasse antes dela, Marcus poderia ajudá-lo. A esperança revigorou suas pernas e seu fôlego, fazendo-o continuar a corrida sem perder o ritmo.
Enquanto corria, Valéria orava por sua vida. O medo da morte sempre foi presente em sua cabeça. Uma sombra passou por sobre sua cabeça pousando mais a frente, o impacto chacoalhando o chão e derrubando a moça. Da orla à sua frente à enorme cabeça da fera surgia das sombras. A besta a encarava nos olhos. Valéria não sabia mais o que fazer. Seu caminho para a casa de Marcus e para a sua própria estava bloqueado pela criatura.
- Não se preocupe pequena, Ziz não lhe fará mal. Na verdade, você é mais uma garantia de que Ezequiel virá até nós. – o velho surgia atrás de Valéria, ainda longe para lhe fazer mal. A criatura avançou mais um pouco, seu enorme pescoço estava mais alto que o corpo e sua boca se abria mostrando os dentes afiados e exalando o odor fétido de carniça.
O ferreiro ainda corria desesperado. Avistou a cabana de Marcus. Pulou as escadas da entrada ignorando as dores nas pernas e nas juntas. Bateu desesperadamente na porta da madeira, quase a derrubando.
- Marcus! Por favor, diz que está aí! – não havia resposta. – Marcus! – Ele não estava na casa. O ferreiro saltou de volta as escadas e retomou sua marcha desesperada para salvar sua filha. Ele iria chegar a tempo. Tinha que chegar!
Valéria chorava. Pedia por sua vida, implorava. Mas, ao que tudo indicava no momento, de nada adiantaria. Seu destino estava selado. Lembranças, pensamentos e principalmente duvidas rodavam em sua cabeça. Quem era Ezequiel de quem o velho falava? O que ela tinha a ver com isso? Por que ela? Não era justo.
A fera estava bem à sua frente, a boca escancarada, preparando-se para o bote. Valéria, de joelhos, chorava e tremia. A criatura rugiu e preparou o ataque. Valéria fechou os olhos, as lagrimas jorrando por sua face. Estava certa de sua morte, mas o milagre aconteceu. Um grito, vindo de trás da fera à fez acordar, tudo acontecendo muito lentamente para ela. Uma bola de fogo explodindo e expandindo nas costas da fera, fazendo-a interromper o bote. E empurrando-a mais a frente. Valéria ainda assustada virou-se preparando para se afastar viu o velho ainda perplexo. Aparentemente ele também se surpreendera com o ocorrido.
Outra explosão, a fera tombou. Valéria começou a correr, mas foi interrompida pelo braço do velho. Como era forte! Ele a segurou pelo pescoço, em sua outra mão, a adaga prateada com que fizera o corte. Virou-a de modo que ambos ficavam de frente pra onde a fera estava. A fumaça subindo das costas do monstro. Só agora Valéria via a criatura completamente. Era uma ave gigantesca. Suas asas tombadas tomavam quase a extensão do campo todo.
- E essa é só uma réplica. – o velho sussurrou em seu ouvido, como se lesse seus pensamentos.
Uma flecha passou zunindo rente à sua cabeça, cortando o capuz do velho ao meio e fincando-se a um tronco mais atrás. Ambos assustados. Do meio da fumaça, caminhado por sobre as costas da besta, uma figura surgia. O arco em sua mão esquerda e uma flecha na direita, ainda sem esticar o cordão e apontando para baixo. Desceu da cabeça da fera com um pulo, postou-se em posição. As pernas esticadas, os joelhos levemente arqueados. Esticou o braço direito enquanto ajeitava a mira com o arco. Sua voz saiu cortante e decidida:
- Eu vou dizer só uma vez. Solte a moça ou você morre antes de me ver soltar a flecha. – a mão que esticava a flecha estava rente ao rosto, o arco muito esticado. O velho sabia que se recebesse uma flechada com aquela força, provavelmente não sobraria muito de seu crânio. Como havia chegado naquela situação? Estava tudo sobre controle. Havia pegado o sangue da moça, como o mestre mandara. Havia marcado-a com a fera. Só precisaria de tempo até chegar a Ezequiel. Como tudo mudara tanto em tão poucos segundos? Sua mente estava confusa, e o medo começava a brotar em seu peito. O que fazer?
Ainda presa no abraço do velho, Valéria viu surgir seu salvador por entre a fumaça da fera. Sabia que estava salva agora. Sabia que nada deteria o arqueiro e que podia confiar sua vida a ele. As lagrimas que caíam agora eram de felicidade. Um leve sorriso apareceu em seus lábios e um sussurro quase inaudível escapou por entre os lábios da moça:
- Marcus!