Aquilo não estava acontecendo. Não podia estar. O velho que até então tinha todo o controle da situação, sofrera uma reviravolta inesperada. Agora estava contra a parede. Não era mais o predador, e sim a caça. Aquele guerreiro, Marcus, surgira do nada, derrotara a primeira réplica funcional de Ziz e agora o ameaçava com semelhante arrogância. Encurralara o velho e agora se julgava superior. Ledo engano. A verdade é que, o velho pensava melhor sobre pressão. E, de um jeito ou de outro, não pretendia matar ninguém hoje. Só mandar um recado para Ezequiel. E o recado estava dado. Sorriu maliciosamente e sussurrou palavras desconhecidas ao ouvido de Valéria: “Mae'n rhaid i farw Eseciel”
Imediatamente o corpo de Valéria começou a se enrijecer e seus olhos perderam o brilho. O velho, que já esperava a reação, sorriu em desdém e libertou a moça do abraço. Inesperadamente, ela não correu para os braços de seu salvador. Ao invés disso, ficou parada em pé, em frente a ele, totalmente apática e sem vida, como um espantalho em sua haste. Daquele jeito Marcus não poderia arriscar uma flecha. Era um ótimo arqueiro, mas já errara uma flecha assim antes, e custara-lhe muito.
O velho, percebendo a hesitação do rapaz, aproveitou e sussurrou um encanto com as mãos voltadas para o chão. Marcus não sabia o que fazer quando viu uma espécie de lama negra saindo por debaixo das vestes do velho, formando uma poça ao seu redor. A cena era tão grotesca e espantosa que o rapaz não percebeu que quanto mais a poça se formava, mais o corpo do velho ia afundando nela. Marcus teve certeza de que vira a cabeça do velho afundar com um sorriso demoníaco no rosto, até desaparecer por completo. No lugar onde antes estava o ancião, agora só havia grama morta.
Por poucos segundos Marcus manteve-se firme com o arco, mirando o nada, ate cair em si e correr para acudir Valéria. Quando se aproximou, os olhos da moça estavam totalmente brancos e opacos, e catatonicamente fitavam o nada.
- Valéria, fala comigo! – ele disse por fim. Sua voz não soava mais segura e ameaçadoramente, mas sim incerta e carregada de preocupação. – Fala comigo!
Ela não respondia. Os chamados não estavam adiantando. Ele a tocou de leve no braço e chamou-a pelo nome de novo. Vagarosamente, a moça inclinou a cabeça até os olhos alvos fitarem o arqueiro. Seu rosto estava totalmente inexpressivo. Ela o olhava como se ele fizesse parte da paisagem, e talvez nem mesmo estivesse ali.
- Valéria? – ele perguntou com uma ponta de esperança.
Em resposta aos clamores desesperados do rapaz, os lábios da moça começaram a se mover lenta e pesadamente. Ela balbuciava algo num sussurro tão inaudível que ele teve que encostar o ouvido nos lábios dela para entender. Ela movia os lábios constantemente, mas era tão baixo que era difícil distinguir. Ele se concentrou e ouviu atentamente quando finalmente compreendeu a única palavra que a moça repetia: “Dalet.”
De volta à cabana, Ezequiel ainda tentava entender o bilhete, e porque sua mãe o havia escrito. Afinal, quem era Dalet e que ligação teria com sua mãe? Porque precisava encontra - lá? E onde diabos estava o ferreiro a quem ele viera pedir ajuda? Resolveu sentar-se e esperar até que o que ele voltasse, e só então decidiria o que fazer. Com um misto de tristeza e solidão, Ezequiel se acomodou numa poltrona, sentindo que cada vez mais se embrenhava numa floresta escura, mas dessa vez, ele não tinha mais pra quem voltar.
Boa cara,ando meio sumido,mas ainda acompanho sua saga
ResponderExcluirMuito lindo Jo!
ResponderExcluirAssim como você.